Fortuna Crítica: Ordinário, de Rafael Sica

Fortuna Crítica: Ordinário, de Rafael Sica – Ambrosia

Até o ano passado, os quadrinhos no Brasil tinham dois marcos pós anos 2000: “Vida Boa”, do gênio Fabio Zimbres, e “Laertevisão”, do não menos genial Laerte.

Em 2011 temos mais duas obras nesse panteão (?) : “Memória de elefante”, do Caeto, lançado no ano passado, e agora esse “Ordinário”, compilação das tiras nada ordinárias de Rafael Sica.

Fortuna Crítica: Ordinário, de Rafael Sica – Ambrosia São tiras mudas em preto e branco, ás vezes profundamente melancólicas e eventualmente com um humor agridoce finíssimo.

O álbum pode ser “lido” em 5 minutos, mas isso só pelos filisteus. Cada tira tem um universo próprio e você pode passar semanas vendo e revendo, sempre aparecerão detalhes novos e novas interpretações para a lógica de Sica.

Sem querer intelectualizar muito, dá pra dizer que é uma “obra aberta”, o leitor decide o significa cada tira. Longe de ser algo tão incompreensível quanto um filme do David Lynch, por exemplo, mas tem tanta poesia (não óbvia) e sutilezas quanto.

Um álbum para iniciados em quadrinhos, então? Muito pelo contrário, é uma obra que mostra que além da ponta do iceberg da mediocridade reinante, existem artistas como Rafael Sica, lá embaixo, de escafandro no mar gelado, esculpindo coisas belas e monstruosas.

Ao longo dos anos, quem desenha desenvolve um olhar para detectar de onde vem o traço dos cartunistas: quem os influencia, de onde saiu aquela construção de corpo, aquele nariz, aquele cenário, etc. É o que chamamos de deformação profissional, você vê o desenho e sabe quem é o pai, o avô, o tio, os filhos e a família toda daquele estilo.

Nesse sentido, para mim o Sica é um enigma. Realmente não sei de onde saiu aquele jeito de desenhar. Talvez de outro planeta. O duro é saber que eu jamais habitarei esse planeta…

A edição ficou caprichada, á altura do trabalho do autor. As bordas são arredondadas como um caderno de desenho e o papel é também parecido com o de um caderno moleskine, ligeiramente amarelado. No final ainda contamos com um posfácio de Fabio Zimbres, com seu texto classudo de sempre.

Por esse livro Rafael Sica merecia uma estátua em praça pública, “Pelo Serviço Prestado ao Quadrinho Nacional”. Mas algo me diz que ele não apareceria para a inauguração do monumento.

[xrr rating=5/5]

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