Lanterna Verde por Alan Moore

Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosia

O Lanterna Verde, personagem criado por Martin Nodell e Bill Finger nos anos 1940, possui um conceito naturalmente inovador. É fácil deduzir tal proposição ao observarmos o domínio que concerne suas histórias: o espaço. A ligação dos super-heróis com o ambiente extra-terra não é exclusividade da criação da dupla, mas, curiosamente, o Lanterna Verde é hoje o mais importante super-herói completamente humano da DC – ou seja, desprovido de super-poderes inerentes à seu corpo -, que além de defender os interesses da Terra, age como protetor de todo um setor espacial. O Superman, ironicamente, mesmo não sendo um terráqueo, é tão somente um mantenedor deste planeta azulado que nos abriga.

Apesar do título Lanterna Verde representar um ser, o conceito da obra extrapola as fronteiras para que tal substantivo também represente uma função: a de patrulheiro espacial. É uma entidade cósmica passível de ser incorporada em qualquer tipo de ente. O mestre da arte sequencial então pensou: “Porque usar um ser-humano insosso e um lugar tão familiar para contar histórias, se estou diante deste conceito tão amplo?”

Alan Moore então se empenhou em escrever alguns contos para o personagem, dando origem à histórias magníficas sobre o universo do herói.

I) Mogo não comparece às reuniões

Começamos com este conto publicado na Green Lantern #188, em maio de 1985. Aqui vemos dois Lanternas Verdes conversando no interior do Palácio dos Bons Serviços, em Oa. Eles questionam o porquê de alguns Lanternas não comparecerem às reuniões da tropa. Já nos primeiros Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosiaquadros, Moore revela pistas de qual caminho a história percorrerá. Um dos personagens questiona o porque de alguns patrulheiros não serem capazes de comparecer aos encontros. O outro explica que um deles é incapacitado pelo fato de ser um vírus de varíola super-inteligente; já um outro se revela como sendo uma progressão matemática abstrata, daí sua anonimidade aparente. Mas o que mais intriga o leitor nessa primeira página é o ser chamado apenas de Mogo, cujo motivo da ausência é inicialmente ocultada. O restante dos quadros explicam o porque de Mogo não ser capaz de comparecer às reuniões, narrado por um dos Lanternas do Palácio.

O texto de Moore revela um suspense sutil, mas eficiente. Apesar de curto (apenas seis páginas), o conto é extremamente rico em detalhes, conseguindo passar ao leitor a idéia de um universo complexo e grandioso, responsável por ambientar a trajetória do glorioso Hal Jordan. A arte de Dave Gibbons é fantástica e complacente ao texto refinado do argumentista inglês, somando-se às cores vivas características de Anthony Tollin. É uma narrativa que não se estende, mas também não exibe um fim precoce. É exata, simplesmente.

II) Tigres

O segundo conto, publicado em Tales of the Green Lantern Corps Annual #2, dezembro de 1986, narra os acontecimentos que antecederam a morte de Abin Sur, predecessor de Hal Jordan, revelando a resposta para um mistério que circundou o personagem durante anos: porque o herói, ao ter caído na Terra, estava à bordo de uma nave, e não utilizando somente o poder de seu anel? O título referencia um conto de Ray Bradbury, intitulado “Aqui há Tigres”, que por sua vez faz referência à expressão em latim “Hic sunt dracones”, que era utilizado para indicar lugares desconhecidos e perigosos na era medieval. Nos tempos modernos, com o mundo todo explorado, Alan Moore reutiliza o termo como uma referência dupla ao definir o único lugar que ainda permanece inexplorado pelo homem: o espaço.

A história começa com Abin Sur visitando um mundo inóspito e proibido até mesmo para a realidade de um Lanterna Verde, chamado de Ysmault, onde um dia reinou o Império das Lágrimas. O herói buscava uma nave que ali havia caído. Eis que Moore enuncia:

Durante as noites milenares, nas quais predominou a magia, o Império das Lágrimas espalhava-se por três galáxias. Seus soberanos, essências imortais e malignas cuja crueldade havia se tornado sofisticada demais para formas mortais, reinavam sem oposição…

Diante da expansão contínua e descontrolada do Império, os Anciões de Oa expurgaram tal presença das vias siderais em que habitavam. Apesar Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosiade derrotados, suas mentes “sutis e perigosas” permaneceram sepultadas em Ysmault. Ao descer neste antro de terror, Abin Sur se depara com inúmeras criaturas que o tentam com propostas egoístas em troca de liberdade. Embora saiba do perigo que corre ao dar ouvidos aos demônios, ele continua sua jornada até se deparar com o excêntrico Qull das Cinco Inversões. Este demônio em especial nada pede em troca, apenas oferece três respostas a três enigmas. O herói, intrigado, resolve aceitar a proposta e obtém três revelações ao longo das sete páginas restantes do conto. Curiosamente uma das respostas faz uma conexão irônica com sua morte, revelando uma armadilha vingativa por parte de Qull, e de todos os habitantes de Ysmault para com a tropa dos Lanternas Verdes.

Moore consegue reter o suspense e o terror, gotejando-os paulatinamente ao longo de seu roteiro impecável, criando talvez um dos melhores contos de todos os tempos sobre o personagem. O ritmo da história e os conceitos apresentados se assemelham muito à literatura de H. P Lovecraft, inclusive se repararmos no nome do local, que é uma própria referência à cidade de Innsmouth, do conto “Uma Sombra sobre Innsmouth”. A arte fica à cargo do competente Kevin O’ Neil, que personifica com maestria todo o ambiente e os macabros demônios imaginados por Moore. Mais uma vez as cores de Anthony Tollin completam de forma extremamente competente a descrição da atmosfera pesada e caótica do Império das Lágrimas.

Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosia
Qull das Cinco Inversões

Para mim, o melhor material sobre Lanterna Verde escrito pelo mestre britânico.

III) Na noite mais densa

O terceiro e último conto que trago faz menção logo no título, ao juramento da tropa dos Lanternas Verdes. A história, publicada em Tales of the Green Lantern Corps Annual #3, maio de 1987, gira em torno de uma “mulher” chamada Katma Tui, que fora enviada pelos Guardiões à um mundo recém descoberto por eles onde a escuridão impera – chamado de Profundezas Obsidianas – com a missão de recrutar um protetor para Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosiaaquele setor espacial. Indagada pelos imortais sobre o porque de ainda não existir um Lanterna Verde nas Profundezas, mesmo ela afirmando que obtivera sucesso em tal empreitada, Katma Tui inicia sua narrativa com o intuito de esclarecer a questão aos Guardiões.

Divagando acerca de suas dificuldades, a Protetora enfim nos revela a idéia central do conto. Como se tratava de um local onde a luz não existia, as criaturas que ali viviam não enxergavam, por motivos óbvios, de modo que o sentido principal da raça dominante era a audição, e não a visão. Conversando com o ser que deveria se tornar o Lanterna Verde do setor, Katma Tui se viu diante de um impasse: o anel era incapaz de traduzir as palavras “lanterna” e “verde”, de modo que a tarefa de explicar ao nativo – chamado de Rot Lop Fan – o que exatamente era um Lanterna Verde fazia-se impossível. Depois de muito pensar, a heroína conseguiu recrutá-lo adaptando as palavras relacionadas ao sentido da visão, para outras semelhantes, próprias do universo de Lop Fan.

O roteiro é inteiramente descompromissado, mas apresenta um conceito completamente novo e interessante. Na verdade, poderíamos até classificá-lo como uma crônica da tropa dos Lanternas Verdes, por contar, digamos, o “dia-dia” da classe heróica. A cada balão nos vemos surpresos diante de tamanha genialidade, simplesmente brilhante.

Lanterna Verde por Alan Moore – Ambrosia
Rot Lop Fan e Katma Tui

Os desenhos ficam à cargo de Bill Willingham, criador de Fábulas, e são precisos no que concerne as expressões faciais dos personagens, de modo que a totalidade da obra impressiona e acaba por não condizer com tamanha simplicidade no que diz respeito à relevância para o universo do título.

*****

Para quem está acostumado apenas com as histórias encarnadas pelos protetores do setor espacial de número 2814, os três contos acima compõe uma leitura alternativa que deixará a mitologia do personagem ainda mais interessante. Obrigatória para quem se diz fã do herói. No Brasil, todas as histórias comentadas acima podem ser encontradas no encadernado Grandes Clássicos Alan Moore, publicado pela Panini em outubro de 2006.

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Comentários 2
  1. Incrivel como o Alan Moore sempre sempre acrescenta coisas geniais seja a qual mundo for, tanto Batman, Joke, e Lanterna Verde.. simplesmente Genial.

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