Neil Gaiman fala sobre Vampiros

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Diante de tanta expressividade que vem tendo atualmente as criaturas da noite (vide Crepúsculo e True Blood) , o portal Entertainament Weekly buscou um dos maiores mestres de contos fantásticos, Neil Gaiman, para esclarecer algumas questões sobre o foco das histórias de vampiro que ilustram as páginas dos best-sellers infanto-juvenis. Gaiman traça uma linha do tempo com as obras mais expressivas de cada estilo e traça paralelos com a realidade atual, projetando o futuro das histórias sobre a mitogia dos chupadores de sangue.

“EW: Como os vampiros passaram de monstros à anti-heróis? Por exemplo, na cultura pop atual, temos visto que os vampiros tem passado de agentes do terror para incompreendidos sociais marginalizados.

NG: Eu acho que isso tem haver, sobretudo, com o que osNeil gaiman123 vampiros representam. Drácula é um grande romance de sedução sexual, cheio de elementos de sedução, estupro e sexo. Então podemos concluir facilmente que os vampiros eram criaturas essencialmente más, onde é possível martelar uma estaca através deles e pôr-los para descansar. Depois desta, penso que a próxima grande obra de expressão cultural provavelmente seja Salem’s Lot de Stephen King. ‘Steve’ quis basicamente recriar Drácula, só que em uma pequena cidade do Maine (ao invés da Transilvânia). Aqui ainda temos o vampiro como forma de representação do outro (Drácula). Então Anne Ricce escreveu Entrevista com o Vampiro, e como adolescente pensei que o livro fora efusivamente emocional.

Mas acho que o que mudou tudo posteriormente, e redefiniu a temática abordada em contos vampíricos, sobre a vida e a morte, foi a chegada da AIDS. Tudo era fundamentado desta forma e de repente, no início dos anos 80, temos algo relacionado com troca sanguínea que mata e está intimamente relacionado, por sua vez, com sexo. E o vampirismo saiu do armário para especificamente tornar-se uma metáfora para o ato de amor que mata. E então, em uma espécie de contínua transmutação, nós tínhamos Os Garotos Perdidos (Lost Boys). Por fim, finalmente temos Sesame Street, onde acho que possa ter sido o responsável pela criação do vampiro simpático.

EW: Você pode falar um pouco sobre a emoção e o medo do poder?

NG: Não acho que vampirismo, pelo menos no meu ponto de vista, seja sempre sobre poder. Porque é sempre sobre um povo exilado à margem (da sociedade). Vampiros, penso eu, deveriam ser excluídos. Sexualmente excluso. Eles precisam ser carismáticos. Eles precisam ser elegantes. Eles precisam ser atraentes, de alguma forma. Mas eles não podem estar comprando belos ternos e chamando atenção. Se estiverem, o livro é sobre outra coisa.

EW: Há mais alguma coisa que você gostaria de complementar?

NG: Vampiros vem em ondas. E nós estamos terminando uma fase agora, por que como estão em todo o lugar, provávelmente seja hora de voltarmos à obscuridade para outros 20 ou 25 anos.”

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Comentários 9
  1. E como sempre Neil Gaiman fala com sabedoria. Um dos motivos de eu não ter gostado de Crepusculo, foi ter lido os livros e hqs dele. Tudo parece meio infantil, depois de ser Sandman.

  2. Eu achei que o final, quando ele disse “Mas eles não podem estar comprando belos ternos e chamando atenção. Se estiverem, o livro é sobre outra coisa.” foi uma puta crítica a série Crepúsculo.

    Nessa série os vampiros se vestem como apresentadores da MTV e dirigem sempre carros chamativos, como as celebridades da cultura pop. Assim dizer que “o livro é sobre oura coisa” é enfiar uma estaca no coração da autora de Crepúsculo.

    Muito bom artigo aliás!

    1. Sim, sim. Mas você não concorda que uma coisa está praticamente atrelada a outra? Os monstros não fazem a cabeça das adolescentes, não são 'caras legais', bons moços passíveis de exposição massiva. O vampiro enquanto monstro é justamente o ser obscuro de outrora. American Vampire meio que começa essa transição, já que vemos dois tipos de criaturas da noite na HQ: O monstro e o vampiro mais humano. A meu ver, é justamente o começo deste 'retorno à obscuridade'. Mas claro, é uma declaração um tanto vaga, capaz de provocar inúmeras interpretações. Essa é a minha. 😀

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