Esse era um daqueles filmes que elegemos como um dos mais aguardados de 2009 e ontem eu pude comprovar, apesar de ter sido obrigado a assistir a versão dublada (obrigado Ribeirão Preto e sua fantástica capacidade de nunca trazer os filmes bons do jeito que eu quero para o cinema), que a expectativa é mais do que merecida.
Mas, já que eu toquei nesse assunto, já quero deixar aqui uma nota de alegria pela tradução e dublagem do filme. Não sei exatamente quem foi a equipe que traduziu as falas do filme, mas em dado momento, as crianças fantasmas chamam a Outra Mãe de Bela Dama e aqueles que leram o livro, vão se lembrar dessa terminologia. Em inglês, eles a chamam de Beldam, o que Gaiman fez de propósito no livro pois, cita John Keats em seu poema intitulado “La Belle Dame sans Merci” (ou, a bela dama sem misericórdia). Nota dez a equipe que notou esse fato.
Agora, nem se precisa falar da adaptação da história para as telonas, afinal, Gaiman escreveu o roteiro junto de Sellick, o que me deixa meramente o prazer de escrever sobre o filme e como Henry Selick se tornou meu ídolo mór das animações!
Para os que não conhecem a história, Coraline trata de uma jovem, chamada Coraline que se muda com seus pais para uma casa em que moram mais três pessoas. Seus pais, escritores, estão finalizando um catálogo e não tem tempo para Coraline, que acaba desejando que sua vida fosse diferente. Um belo dia ela encontra uma pequena porta escondida que, ao ser aberta por ela durante a noite, leva a uma outra casa, com outros pais, mas nem tudo são flores, como ela vai descobrir, sobre duras penas.
Se engana quem pensa que Coraline é uma animação para crianças. A temática que Gaiman cria, juntamente com as imagens idealizadas por Selick formam uma visão perturbadora. Isso sem falar que o tema é pesado por si só, afinal de contas, estamos falando de uma criança sendo obrigada a escolher entre uma mãe que lhe dá tudo sem obrigações e uma vida, de verdade, em que se tem algumas coisas e muitas obrigações. O tema do crescimento e da responsabilidade humana prevalece a todo momento. Ler e assistir essa história é coisa para crianças que tem de aprender sobre suas devidas responsabilidades.
Agora, deixando a história de lado, Henry Selick, junto de sua equipe, criou o mundo que Gaiman havia imaginado perfeitamente. Assistir ao filme era ver o que eu vi em minha mente há muitos anos quando eu li o livro pela primeira vez. O tipo de narrativa de Gaiman permite esse tipo de coisa e Selick soube aproveitar bem isso e desenvolver o filme com uma magia visual que há muito não se via.
Esse filme comporta uma série de elogios que vão desde os cenários, às expressões faciais dos bonecos, bem como o uso perfeito da movimentação dos personagens que fluem pela tela como não se via há muito tempo. A técnica do Stop Motion, que se pensava estar morrendo, ganha nova vida com esse filme. É um trabalho de arte e amor que ganham cor e forma graças a uma equipe de animadores e técnicos altamente capacitados. A maior prova disso são os pelos do gato que acompanha Coraline em suas aventuras. Não se dá para dizer que são de verdade, mas é o mais próximo que se pode chegar.
Ainda, devemos dar o devido crédito a Dave McKean que, em seus desenhos no livro, deu toda a fundação para a construção do filme e suas imagens sombrias. Uma das cenas que mais me agradou foi a abertura, com as mãos de metal costurando a bonequinha, abrindo ela, estripando esta, como uma autópsia, tudo sob o som de uma trilha sonora extremamente perturbadora.
Falando na trilha sonora, o compositor francês Bruno Coulais é o responsável por esta maravilhosa peça musical que, em diversos momentos lembra algumas trilhas mais sombrias escritas por Danny Elfman, porém com mais tristeza e profundidade, tudo isso graças ao uso de instrumentos chineses, corais de crianças, sinos, um quarteto de cordas, alguns instrumentos não usuais e em dado momento, harpas. O resultado final, vocês irão conferir amanhã quando eu postar o Movie Tunes – Coraline, mas basta saber que essa trilha ganhou meu coração, assim como o filme como um todo.
No final das contas, eu fico feliz por esse filme ter tratado o material original com o devido respeito, me dando esperanças que um dia aquele projeto do Terry Gilliam de filmar Belas Maldições com o Johnny Depp e o Robin Williams ainda pode ocorrer, tudo com o aval do Gaiman, é claro.
J.R. Dib









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